26.11.06

A Pirata





Enquanto nossa tripulação lutava com os piratas, eu me escondi em minha cabina, covarde e inútil que sou. De repente, o barulho acabou, eu não sabia quem tinha ganho a batalha, até que minha porta se abriu, dois piratas enormes entraram, me pegaram pelos ombros e me arrastaram para fora, eu ainda agarrado ao pequeno baú com todas as minhas posses, jóias valiossíssimas.

No convés, a mulher mais linda e imponente que eu já tinha visto, uma bela pirata, longas botas, seios fartos, lenço ao pescoço, roupas rasgadas e algo ensanguentadas, mas nenhum arranhão em seu corpo. O sangue era de outros. Sua espada vermelha em uma mão, uma farta caneca de cerveja na outra. A deusa-pirata estava celebrando sua vitória.

Eu vinha com a cabeça cheia de planos, desculpas, coisas para falar, tratos, pedidos, mas na hora em que vi aquela deusa, nada mais me passou pela cabeça. Fiquei totalmente avassalado.

Caí de joelhos diante dela, abri o pequeno baú com todas as minhas possessões e despejei as jóias aos seus pés: - É tudo seu. - Falei.

- Claro que é, seu idiota. - Ela respondeu, rindo. - Todos os marinheiros lutaram bravamente. Alguns morreram, outros se juntaram à minha tripulação. Só você se escondeu como um verme. E vai morrer como um verme. - E gritou para a tripulação: - Preparem a prancha.

Eu não sabia o que fazer. Não queria nem viver. Queria apenas ficar perto daquela deusa. Abaixei minha cabeça e comecei a beijar e lamber suas botas sofregamente, enquanto as lágrimas me escorriam pelo rosto. Alguns piratas tentaram me tirar dali, mas ela disse:

- Deixem o verme me adorar. Eu mereço. E é a última coisa que ele vai fazer. - E levantou a ponta da bota, apoiando-a no calcanhar: - Lamba a sola, verme. É onde está a sujeira, o que você merece.

Irromperam dezenas de gargalhadas e percebi que eu não era de fato nada. Achei que valia mais, que era o mais rico, mas de que adianta? Diante de uma deusa daquelas, nada adianta.

Depois que lambi toda a sujeira de sua sola, ela ordenou:

- Chega, verme. Atire-se na água pra minha diversão.

Mais uma vez, os piratas vieram me segurar, mas ela impediu: - Não precisa. O verme vai por conta própria. Não é, verme?

Ela me pegou pelo queixo e me levantou, e só aquele breve tocar de nossas peles já foi o maior prazer da minha vida: - Ele vai se jogar no mar porque isso vai me divertir e ele quer me ver feliz, não é, verme?

Balancei a cabeça, em silêncio, e ela riu uma nova gostosa gargalhada enquanto me dava um tapa:

- Assim que eu gosto. Bom verme. Agora, vá.

Lentamente, de costas, sempre olhando pra ela, eu subi na prancha, caminhei lentamente, e fiquei em pé, bem na ponta, olhando pra ela. Não sabia o que fazer. Não tinha mais vontade. Só sabia que tinha que obedecer qualquer coisa que aquela deusa do mal me ordenasse.

Ela apontou sua belíssima mão pra mim e fez um gesto como de quem dá um peteleco em um mosquito e, meu corpo totalmente fora do meu controle, pulei.

A última coisa que ouvi, antes do splash na água, foi sua deliciosa gargalhada.

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